sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O casamento dos meus sonhos



Todos esperavam um dia ensolarado, a programação dependia das atividades de lazer que só faziam sentido se fizesse muito sol. Nada muito cansativo era apropriado, a noite prometia ser longa.
Levantei da cama, porque acordada eu já estava desde que desliguei o telefone por volta de meia noite. Chovia horrores naquela fazenda. Relâmpagos normalmente me apavoram, mas eu sentia tanta raiva, tanta vontade de vomitar por todo ódio dele e de mim, por deixar doer, que nenhum trovão ou relâmpagos me causava pânico. Era uma viagem descontraída e ele não tinha nada de importante para fazer nesse final de semana. Não custava nada ele me acompanhar, afinal era uma festa de casamento e não um funeral. Tudo 0800 e nem a gasolina precisava dividir comigo. O que me dá mais raiva é ele ter certeza que estava coberto de razão. Argh! Só posso concluir que minha companhia não faz diferença. Mas já havia chorado tudo que tinha pra chorar e gastado uma nota de celular. Eu que liguei e ainda pago a porra do deslocamento. Minha idéia era dar uma corrida pela redondeza, explorar novos territórios, e quem sabe participar de alguma competição esportiva. Sempre tem dessas coisas em hotéis fazenda. Mas chovia desgraçadamente.
Minha amiga mais querida da época da faculdade ia casar em menos de 12 horas, eu deveria estar feliz por ela, mas não era exatamente o que sentia, só pensava que se ela não fosse casar hoje, eu iria agora mesmo acordá-la para contar a canalhice que o meu EX-namorado havia feito comigo (eu estava decidida a terminar, embora ele ainda não soubesse disso). Ahhh, mas era o dia da noiva, por mais egoísta que eu seja não posso envolvê-la nessa história, não hoje.
Penso, penso, e nenhuma das outras meninas da faculdade servem pra ocasião. A maioria delas é muito religiosa pra ouvir alguns palavrões que seriam inevitáveis. Outras são ridiculamente compreensivas com homens cretinos. O idiota não precisava de aliadas.
Era quase onze horas da manhã, em breve, chegaria um pessoal que eu gostava um pouquinho mais. Não sei ao certo quem coube no carro e quem ficou de fora, só torço pra que um, apenas um, tenha vindo. Me identifiquei com poucas pessoas durante a faculdade, mas um deles era especial. A última vez que havia o visto foi na formatura de uma turma anterior a nossa, depois disso abandonei o curso e só tive algumas notícias. Soube que ele casou, mas ou menos na mesma época que eu, e soube que separou, mais ou menos na mesma época que eu.
Parei na varanda do chalé onde eu estava hospedada, eram vários chalés idênticos, e do meu dava pra ver o espaço onde aconteceria a festa. Havia uma tenda onde trabalhavam muitas pessoas enfeitando rusticamente o cenário. No canto da tenda a banda montava seus instrumentos, eu fiquei ali sentada no parapeito da janela. A cena pedia um cigarro. Eu não fumava há 5 anos. Mas ela pedia tanto que não resisti. Peguei um Lucky Strike na mesa de cabeceira da minha “colega de chalé”. Eu mal a conhecia. Acendi e me esforcei pra dar o primeiro trago, o importante era sentir ele aceso entre os dedos, e me poluir o mínimo possível.
A banda começou a tornar-se interessante, um dos meninos havia estudado com a gente.Na época ele tocava hardcore, eu achava o máximo. Mas nesse dia ele parecia muito mais interessante. Ele aparentava ser o líder da banda. E enquanto os outros afinavam os instrumentos ele fazia a decoração do cenário. Ele usava uma roupa estilo peter pan e amarrava penduricalhos feitos com flores de plásticos e pequenos bibelôs numa corda que vinha do teto da tenda e assim parecia que chovia flores e brinquedos sob eles. E enquanto os músicos passavam a primeira música ele continuou pendurando os enfeites, mas agora fazia tudo no ritmo da música. Ahhh! E a música! Era demais! Tudo o que eu menos esperava ouvir ali. Minha amiga sempre teve bom gosto musical. Mas eu não esperava algo tão bom. Dois caras que até então estavam sentados, colocaram chapéu de fanfarra, fardas de veludo verde e detalhes dourados, e começaram a tocar um instrumento de sopro que eu acho que é trompete (não entendo bem disso). E todos pareciam estar de pijama por baixo das fantasias. O som era incrivelmente suave e lúdico. Ninguém cantava, eles só sorriam muito.
Meu cigarro acabou e peguei outro. Não queria ficar ali com cara de quem não tinha nada melhor pra fazer, mas eu definitivamente não tinha e não iria sair dali. Nenhum lugar do mundo poderia me agradar tanto naquele momento. Eu comecei a sentir raiva de todas as pessoas que eu gosto e que não estavam ali comigo, sempre sinto isso. Quando quero dividir algo com alguém e esse alguém não está, sinto ódio (especialmente quando ele não quis estar e nem preciso falar de quem eu mais sentia ódio).
Esse dia foi o mais heterogêneo da minha vida até hoje. Não dormi a noite toda, senti ódio mortal de uma pessoa que eu amava, e depois foi transportada pra um outro mundo. E a festa nem havia começado. Eu gostaria de contar tudo até o fim hoje, mas não teria tempo suficiente e deixaria detalhes de lado. Foi um dia de experiências deliciosas e intensas, tudo me tocava, ora com dor, ora com alegria ora com prazer. Sempre lembro desse dia antes de dormir, mas nunca consegui revivê-lo. Por isso quis escrever, pra lembrar e sentir um pouquinho dele.

2 comentários:

Menina Magrelinha disse...

Uauu.

Minerva Pop disse...

Olá,
Parabéns pelo Blog....gostaria de convidá-lo a visitar o nosso....minervapop.blogspot.com
Valeu!
Anselmo - SP